quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

DEZ MANEIRAS PARA PERMANECER CRIATIVO


Como permanecer criativo num mundo onde é tão fácil copiar, recortar e colar? Outro dia coloquei esta questão para o grupo de professores que coordeno. Pelo silêncio inicial pude perceber que a resposta estava longe de ser fácil. Porém, maravilhoso é o tempo em que vivemos. Um professor sacou da bolsa o seu Ipad e digitou minha pergunta no Google [este incrível oráculo pós-moderno] e logo em seguida milhares de respostas estavam à nossa disposição. Por ironia, caímos na nossa própria armadilha. Sem saber como poderíamos ser criativos, naquele momento, recorremos à criatividade alheia. Dente os incontáveis resultados, um vídeo chamou a atenção de todos 29 ways to stay creative [aqui]. Simples, conciso e didático. Genial. Era tudo que precisávamos.

Vimos o vídeo e pensamos, “ok, é muito bom”, mas não era nosso. Precisámos descobrir nossas próprias maneiras de permanecer criativos. Alguém sugeriu, “cada um de nós deve elencar numa folha pelo menos 10 maneiras que utiliza ou pretende utilizar para seguir criativo”. Batata! Em alguns minutos apareceram as listas mais mirabolantes deste lado da galáxia. Não posso divulgar listas alheias, por isso coloco aqui a minha, que não é lá “grandes coisas”, mas é minha e me ajuda. Torço que ela inspire mais alguém a, pelo menos, montar sua própria lista de inspirações criativas.

10 maneiras para permanecer criativo

1. Plante. Dos exercícios manuais possíveis a uma pessoa totalmente inabilidosa, como eu, plantar é o que mais gosto. É preciso preparar a terra, conhecer a semente, sujar as mãos, regar, oferecer luz, esperar crescer... todo este processo é um bom exercício de paciência. E é bom ter paciência, porque criatividade não é uma virtude que se nasce com ela ou aparece em nós da noite para o dia. Acho que nossa criatividade, neste caso, cresce junto com a planta, conforme a gente cuida dela. 

Intervenção "Máximo Silêncio", Praça Paris, Rio.
2. Aprenda novos idiomas. O conhecimento de outra língua traz consigo um novo e larguíssimo horizonte. A língua não vem sozinha, junto a ela vem toda uma cultura com a qual se pode aprender e também toda uma nova população com quem se pode conviver e partilhar.

3. Leia quanta literatura puder. Ler é o melhor exercício de imaginação possível, as letras tem o poder de nos transportar para diversas realidades sem a influencia dos sentidos. É pura imaginação. É incrível imaginar cada uma as cidades criadas por Calvino, cada membro da família Buendía, da obra de G. G. Marquez ou cada dor sentida pelo desafortunado Raskólnikov, personagem de Dostoiévski. Ler é imaginar. A imaginação e a Criatividade são irmãs siamesas.

4. Escreva à mão. Conheço gente que só usa caneta para assinar. Continuamos escrevendo, mas estamos perdendo o exercício da letra. Sentir o cheiro da tinta de uma boa e velha Bic no papel dá a sensação de que o trabalho da escrita está fluindo melhor. Além disso, escrever a próprio punho nos une há uma tradição milenar de tentar desenhar nossas palavras de maneira bonita ou pelo menos, inteligível aos outros.

5. Faça exercícios diários. Corra e esvazie a mente. Em “cabeça cheia” não há espaço para a criatividade, só para a repetição. Pedale e veja lugares diferentes. Ande e reflita sobre o que vem fazendo no dia-a-dia. Canse o seu corpo para repousar o intelecto mais profundamente. Cansaço e descanso são fundamentais no processo criativo. Com o suor eliminamos muita coisa velha que está em nós. No sono, sonhamos a novidade.

6. Jogue, mas não gaste seu dinheiro com isso. Cartas, videogame, xadrez, não interessa qual, toda espécie de jogo exige do jogador a resolução rápida dos mais variados problemas. Nas cartas, é preciso saber blefar, calcular, “ler” o outro; no xadrez, escolher a jogada certa entre milhares possíveis é fundamental; no War, o sucesso depende de delimitar uma estratégia para conquistar territórios. Jogos são ensaios divertidos da vida.

7. Dê aos pobres algo mais que roupas e comida. Muita gente tem o hábito de ajudar àqueles que precisam. A maneira mais comum é a doação de bens materiais. Ótimo se você faz isso. Mas, doar seus brinquedos velhos não faz de você uma pessoa criativa. Os pobres não precisam apenas de roupas e comida. Eles querem alegria, arte e conhecimento tanto quanto celulares modernos e tênis Nike. Que tal partilhar um pouco do que você sabe com quem precisa? Dê uma aula em um albergue, leve seu Playstation para jogar com jovens que nunca jogaram, ensine alguém a construir uma pipa. Você sabe o que pode fazer pelo outro.

8. Desconecte-se.

9. Beba bons vinhos. Procure conhecer a uva do vinho que bebe, tente identificar os aromas e sabores, não exagere na dose. Aprender a amar os vinhos é uma boa maneira de aprender um pouco de geografia, história, agricultura, arte e nos encaminha para a boa culinária e para uma postura mais alegre à mesa. Repito, não exagere.

10. Leia os manuais de instrução. É típico, mal tiramos da caixa os nossos gadgets e a primeira coisa que fazemos é ligar. Ler os manuais, as bulas de remédio, as fórmulas os mapas, as notas de rodapé e tudo que normalmente está em letras pequenas [por isso saltamos] nos ajuda a tirar melhor proveito das coisas, ajuda a estabelecer novos links de pensamento e de uso. As letras pequenas nos ensinam a olhar mais longe.

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Uma última me veio à cabeça de depois de tudo escrito. Ame mais. Porque São Vicente de Paulo dizia que “o amor é criativo até o infinito”. Concordo.