terça-feira, 13 de setembro de 2011

É SEMPRE NO PASSADO AQUELE ORGASMO


Acabo de completar trinta anos e descobri que estou ficando velho. Não se trata da idade. Muitos atletas atingem o auge da forma justamente aos trinta, como Pelé na copa de 70. Na Grécia Antiga só se ingressava na vida política após três décadas de vida. E segundo a tradição cristã, o próprio Jesus só se sentiu pronto para iniciar sua “vida pública” depois de completar trinta anos. Não é pela idade em si, mas pelos sintomas que a acompanham. Associo a ideia de "velho" a ficar parado. Parado no tempo. Não foi difícil perceber que assim estou.
Outro dia fui renovar minha sagrada running playlist,  no Phillips GoGear. Selecionei as seguintes músicas para 40min a 9km/h na esteira: Bad Moon Rising - CCR / Born to Be Wild - Steppenwolf / She’s a Sensation - Ramones / Should I Stay or Should I Go - The Clash / A Little Less Conversation / Elvis vs JXL / I Will Survive - Cake / New Generation - Suede / Song 2 - Blur / Reptilia - Strokes / Molly’s Chambers - Kings of Leon. Pode ter certeza, é uma ótima playlist para corrida, só que  a música mais nova aí deve ser de 2003. Na tentativa de renovar, descobri que não conheço nenhuma banda nova. Essa descoberta ressoa meio melancólica na cabeça alguém que, há uns dez anos, esperava ansioso pela Folha de São Paulo às sextas, porque a Folha Ilustrada vinha sempre repleta de novidades do mundo da música. Hoje, ainda estou esperando pelo disco novo do Blur, como os judeus aguardam pelo messias. Existe povo mais velho do que o povo judeu?
Ah, a idade. A gente só vai percebendo aos poucos. Alguém te pergunta, “você já leu o novo do Daniel Galera?” e você responde, “Daniel, o quê?”. Você liga o Playstation 3 para jogar Super Metroid gravado num disco com mais 2100 jogos para Super Nintendo.  Caminha ate a locadora, procura algo engraçado e volta com “Curtindo a Vida Adoidado” pronto para dar boas risadas. Domingo é dia de reunir os velhos amigos para aquele desafio de War, mas aí você percebe que, no seu tabuleiro, o país mais difícil de conquistar ainda é a União Soviética. E como última loucura retrô nós, os velhos, usamos filtros no Photoshop para fazer as nossas fotos novas parecerem antigas. Chega. Lembro de um verso do Drummond, “é sempre no passado aquele orgasmo”. Verdade maior. Será o título dessa postagem.
As vezes a gente está tão apegado às paixões do passado, que não nos permitimos amores novos. Mas o velho dito latino não permite acomodação, Tempus fugit. Para um usar uma metáfora mais moderna, "computador desatualizado se enche de vírus".
Então corro em busca do que há de novo. E é claro que há novidades, adaptações necessárias. No guarda-roupas, as camisetas Redley perderam espaço para as camisas sociais de cores sóbrias. Não é mais possível sair sem o smartphone. E se viajar é preciso, o principal destino deixou de ser a Serra do Caraça, porque agora os salões de conferência em São Paulo ou em Brasília são mais urgentes. Nem tudo é trabalho. Há o jogo de tênis, sempre um filme novo do Wood Allen no cinema e as férias de fim de ano para planejar. No fim, uma certeza. É preciso abrir espaço para novidades. Desenvelhecer. 

Decidido, em dezembro, vou para um lugar que nunca fui.